Feijoada vegetariana, yakisoba de casca de melancia, croquetes de casca de inhame e torta de talo de taioba. O cardápio pouco convencional, mas muito nutritivo, foi criado há um ano pela cozinheira Regina Tchelly, 31 anos, coordenadora e idealizadora do Favela Orgânica, para incentivar donas de casa a reaproveitar partes dos alimentos, que muitas vezes são descartados nas feiras da cidade e vão direto para o lixo. Todas as quintas, Regina dá aulas para mulheres na Associação de Moradores dos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme.
Na cozinha criativa e sustentável do projeto Favela Orgânica não há espaço para desperdício. Cascas, talos, caroços, folhas de verduras, legumes e frutas são transformadas integralmente pelas mãos de Regina, que aprendeu com os pais, na Paraíba, a reaproveitar os alimentos e a cultivar produtos orgânicos. Desde que se mudou para o Rio, há 11 anos, a doméstica ficou impressionada com a quantidade de frutas, legumes e verduras que eram jogados fora nas feiras da cidade. A cozinheira profissional decidiu então arregaçar as mangas para criar e testar receitas com alimentos que normalmente não entram na mesa do brasileiro, como cascas de inhame, melancia e banana.
“O segredo é cozinhar com amor, alimentar-se de forma saudável e compartilhar o conhecimento. Olha que saboroso!”, ensina ela, que adora inventar receitas, como risoto de casca de melancia e arroz de folhas verdes.
Palestras no exterior
Ela acaba de voltar da Itália, onde foi convidada a dar palestras sobre o projeto. No cardápio: arroz vermelho com talo de salsinha e farofa de óleo de babaçu com castanha e casca de banana. Regina também já foi tema de reportagem da BBC de Londres. Mas a fama não lhe subiu à cabeça. “Meu maior sonho é levar as oficinas para presídios, orfanatos e moradores de rua. Quero que, através da alimentação, as pessoas melhorem a autoestima, tenham mais qualidade de vida e aumentem a renda familiar com a culinária”, planeja a cozinheira, que procura trabalhar com cardápios que possam ser preparados por famílias ricas e pobres.
Atitudes como a dessa paraibana ajudam o país a combater o desperdício de comida. Segundo dados da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), apesar de o Brasil ser o 4º produtor mundial de alimentos, 20% de tudo o que é preparado nas cozinhas brasileiras têm o lixo como destino certo. Da produção até a distribuição, ficam pelo caminho 64% de tudo o que país fabrica em alimentos. Todo dia, perdem-se 39 mil toneladas, suficientes para alimentar 19 milhões de brasileiros, com café da manhã, almoço e jantar.
Além de mais saudável, a alimentação sustentável faz bem ao bolso, já que as refeições saem mais em conta. O projeto também procura estimular famílias a cultivar hortas no quintal de casa, adubadas com as sobras dos alimentos que não são aproveitados. Confira receitas no blog da cozinheira (http://favelaorganica.blogspot.com.br).
Retirado do site O Dia
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